As gavetas de minhas memórias têm tantos tesouros guardados

Dentro delas tem rostos, tem aquele olhar

Escondido de baixo da toalha da saudade está aquele sorriso único, especial

Tem uma caixinha no canto com aquela música 

Que quando tocada faz minha alma viajar.

Nestas gavetas tem cheiros guardados com esmero... 

De campos, flores, vinhos, comidas e de seu perfume habitual

Tem cores de todo arco íris, do verde de seus olhos, de todos os pôr do sol 

Tem frases inteiras guardadas, com risos, com lágrimas ou pequenas coisas banais.

Tem itens esquecidos, que só se acha remexendo bem lá no fundo

Mas tem também os especiais, catalogados em envelopes feitos de amores artesanais 

Tem os momentos divisores de água embaladas em suas dores, amarrados com fitas datadas escarlates

Tem retratos inteiros, tem até os amarelados que já faltam pedaços e tem também aqueles emoldurados pelo tempo, estes já não tão fieis. 

Tem vidas dobradas, guardadas em tons degradê...

Passadas com vinco, com afinco, desamassadas, engomadas, perfumadas

Tem lágrimas em pacotinhos de veludo, vitrificadas pelo tempo

Tem livros inesquecíveis, documentos escondidos

Amores esquecidos, beijos roubados, pecados.

Lá dentro tem emaranhados de medos 

Tem diplomas de vitórias conquistadas

Tem orações silenciosas, impressas a ferro e fogo 

Tem o porta joias de saudades com pérolas de inestimável valor.

Algumas gavetas tem chaves, outras tem segredos

Outras estão constantemente abertas, escancaradas 

E tem até aquelas emperradas, enferrujadas 

E sempre tem as vazias ávidas de se preencher. 

Estas gavetas são minhas, intransferíveis 

Preenchidas nesta jornada

Uma vida inteirinha guardada 

Até o último suspiro

Ou se o destino por puro capricho

Fizer de tudo eu esquecer. 

Obs.: Este poema faz parte do livro Iziz de Andrade e seus Convidados.