A MONTANHA DO TIO ANCO
Poemas | Antologia Clube da Poesia e Declamação Gaúcha | CARLOS OMAR VILLELA GOMESPublicado em 03 de Novembro de 2025 ás 16h 40min
A MONTANHA DO TIO ANCO
CARLOS OMAR VILLELA GOMES
Meu tio tem uma montanha...
É uma montanha encantada!
A grandeza da paisagem
Contraponteia meus passos,
Que vão desbravando o mato,
Pequeninos, hesitantes...
Desvendando cada canto
Dessa montanha gigante!
A ponte se faz imensa
Pra o meu olhar insistente...
A sanga é rio selvagem,
Os lambaris são valentes
E encaram, dando risada,
As “caniceadas” da gente!
O arvoredo balança
Ao beijo do vento norte...
Ou será que são assopros
De algum monstrengo escondido
Que mora atrás da montanha?
Que de repente se assanha
E resolve nesse tranco
Deixar a gente com medo?
Existem tantos segredos
Na montanha do Tio Anco!
Até uma princesa moura
Já viram nesse lugar...
Será que a Teiniaguá,
Cansada da vida igual,
Veio morar na montanha,
Abandonando o Jarau?
Será que encontrou meu tio
E lembrou do velho Blau?
Pra ser bem sincero e franco,
Já tomei mate com ela...
Ali, na gruta mais bela
Da montanha do Tio Anco!
Em tantas noites geladas,
Sentado à beira do fogo,
Num castelo diferente
Que ele chama de galpão,
O tio nos conta histórias
Sobre a montanha encantada,
Plantando duendes e fadas
Na nossa imaginação.
Feito a noite em que o Negrinho
Chegou de alma faceira;
Largou um buenas, brejeiro...
E mais ligeiro que um raio
Foi encontrar o seu baio
Detrás da bergamoteira.
Meu tio não faz rodeio
E diz que não é balela...
Que até hoje acende vela
Pra o Santo do Pastoreio.
Tem vezes que eu não durmo
De faceiro ou assustado
E rondo ao longe a montanha,
Até chegar a manhã.
Não é que eu seja tantã,
Ou que não faça por onde...
É que o Boitatá se esconde
Na Toca do Tanhanhã!
Foi isso que o tio contou,
Ajeitando o barbicacho...
Que ele foi criado guaxo
Pela avó do meu avô!
Meu avô? Meu avô não morreu...
Meu avô não está no céu.
Ele se mudou pra montanha do Tio Anco!
Está logo ali, detrás daquela pedra,
Detrás daquele tronco,
Depois daquela sanga;
Ali, pertinho dos seus...
Quem foi que pôs no papel
Que é preciso estar no céu
Pra estar juntinho de Deus?
Eu sei, que não tarda muito,
Se vão os passos da infância...
Faculdade, novas cores
E outros tantos valores
Me esperam depois da curva,
Pois cabe feito uma luva
O meu destino anunciado.
Mas esse mundo encantado
Vou levar em cada canto...
O arvoredo, as vertentes,
O castelo que é galpão.
Chega a ser impressionante...
Essa montanha gigante
Parece até pequeninha,
Pois ela cabe inteirinha
No amor do meu coração.
E o meu olhar de criança
Nunca vai virar semente...
Vai viver eternamente
Na montanha do Tio Anco!