A poetiza emudecida

Contos | 2025 - Antologia Eidi Martins e Convidados - A Voz dos Poetas | Manoel R. Leite
Publicado em 30 de Setembro de 2025 ás 16h 58min

Sua voz havia silenciado já alguns anos. Por anos vivera com máscara que não retrava o seu interior. Afinal, todo profissional vive apenas de sua profissão, sendo que aquilo que não traz retorno precisa desapegar. Assim, vivia Emilly, ou simplesmente vivia.

_ Não tenho tempo para coisas que não me agregam. - dizia como argumento, desculpa ou simplesmente para acreditar em sua vida.

Nem sempre fora assim, já acreditou em sonhos, e, sonhava muito. Mas queria ser uma mulher forte, ou pensava que queria. O pior de tudo, imaginava em sua inocência que ser forte era ser rude, distante e como algumas pessoas fortes distante e sofredoras. Carapaças perfeitas para se esconder fragilidades, humanidades.

Estudou, batalhou trabalhou e venceu. Todavia em seu íntimo uma voz gritava. Com urgência sentia apressada, sua vida profissional bem conduzida, bem sucedida. Lazer aparentemente feliz, muitas postagens, muitos sorrisos, e, em seu pouco tempo livre um vazio ensurdecedor. Alguns racionamentos percorreram em sua vida, personalidade forte afirmavam para justificar os términos. E, ela sentia orgulhosa com a expressão. Realmente sou forte, não é qualquer um que consegue estar comigo. Muitos conhecidos poucos colegas. Muitas reuniões poucas uniões. muitas bebidas, e, poucos sabores de vida. Entorpecer o sentido quase sempre não faz sentido.

Na vida cíclica, os caminhos voltam aquilo que já foi um dia, ou mesmo em sua totalidade nunca deixou de ser.

Foi em um dia chuvoso, e, com uma internet instável que a influência do virtual a conectou ao real. Em uma instante com livros antigos encontrou um pequeno pedaço de papel. Poema simples de uma menina que sonhava ser poeta. Aquilo revelou a ela um mundo a muito perdido. Como em êxtase lembrou de outros poemas, outras anotações, e, pequenos diários, cadernos guardados em arquivo morto de seu armário e de seu coração.

Aquilo era a voz que se calara. A poeta emudecida pela vida. Finalmente, se encontrava viva. Naquele instante o que ela precisa era escrever tudo que estava guardada no seu ser. Inspiração não precisava, pois tudo era inspiração para a poetiza que por anos estava emudecida.

Comentários

Um conto que parece real, em especial na parte final, pois muito disso acontece entre nós!

Lorde Égamo | 30/09/2025 ás 18:28 Responder Comentários

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