Amélia
Contos | 2025 - Isolti Cossetin e Convidados - Apaixonados pela Vida | Rose CorreiaPublicado em 08 de Novembro de 2025 ás 06h 09min
Sinopse::
Um conto poético sobre solidão, esperança e reencontro.
Através de Amélia, a narrativa mostra que o amor pode tardar, mas quando chega, cura o abandono e reacende a vida.
Amélia
Epígrafe:
"O amor pode demorar a chegar, mas quando vem, cura até o silêncio mais antigo.”
Era uma vez, no meio do nada, uma casa simples, um tanto abandonada.
Lá morava uma menina que não sabia o que era o amor.
Sua rotina, um tanto monótona, se repetia todos os dias,
antes mesmo do sol raiar.
Dentro da casa dela existiam raios de luz
que se refletiam por um velho lampião de querosene.
Antes do cantar do galo, alguém já estava cantando
num velho e empoeirado rádio a pilha, esquecido num canto da casa.
A menina não entendia como naquele rádio havia uma pessoa que cantava —
mas ela não tinha tempo para questionar suas indagações.
A vida era árdua e severa com ela,
desde o dia em que ali fora deixada.
Então, ela tomava seu café e seguia seu destino,
com os cabelos esvoaçantes, o olhar distante e os pés descalços.
Sabia o que precisava fazer,
porém fazia além do necessário —
afinal, seu prato de comida dependia somente dela.
Quando a noite começava a surgir no horizonte,
ela tomava seu banho de bica d’água e entrava em casa.
Tomava sua sopa e seguia para o quarto.
Antes que os olhos se entregassem ao sono,
lia uma pequena frase escrita num pedaço de papel:
(“O amor... mas o que é o amor?”)
E adormecia.
Aquele pedaço de papel era o único que ouvia sua voz.
Certo dia, enquanto alimentava as ovelhas no curral,
sentiu a brisa dançar entre seus cabelos.
No coração, ela riu — mas, no rosto, uma lágrima caiu.
Ao erguer os olhos, viu alguém se aproximando.
Então, correu e parou perto da porta.
O casal se aproximou, e num olhar lacrimejando, ela ouviu:
— Amélia, meu amor… é a mamãe e o papai.
Por um instante, o mundo pareceu parar.
Os olhos que antes apenas observavam, agora diziam tudo o que a voz calou por tanto tempo.
E então, algo dentro dela se quebrou — ou talvez se curasse.
Pela primeira vez, depois de tantos anos de silêncio, Amélia falou.
As palavras saíram tímidas, trêmulas,
mas carregadas de tudo o que o coração guardou:
— Mamãe... papai...
E, num abraço, entenderam que o amor havia resistido ao tempo e à distância.
Amélia, enfim, conheceu o amor.
Naquele mesmo dia, voltaram para casa.
E, entre lembranças e novos sorrisos, viveram felizes por terem encontrado o que, um dia, acreditaram ter perdido:
Amélia — e o amor.
Por: Rose Correia