As muralhas de Ratanaba
Poemas | Rosilene Rodrigues Neves de MenesesPublicado em 17 de Dezembro de 2025 ás 11h 29min
Aí se as muralhas de Ratanaba, contassem,
não de ouro ou pedra, mas de tempo tecido,
nas fendas da argila antiga,
ecos de suspiros roubados.
Amores proibidos,
como a trepadeira que escala o paredão,
busca a luz onde não devia,
enlaça o impossível com raízes teimosas.
O guerreiro,
guardião da cidade,
olhos fixos no horizonte,
coração cativo de um sorriso vedado.
A sacerdotisa,
pele alva sob o sol causticante,
cantos que acalmam a fúria dos deuses,
alma presa a um juramento sagrado.
Encontros furtivos,
à sombra da lua crescente,
palavras sussurradas,
medo e desejo dançando juntos.
O toque fugaz,
a promessa silenciada,
o beijo roubado,
sabor de mel e de fel.
A muralha testemunha,
pedra a pedra,
o amor que floresce na clandestinidade,
o segredo que se grava na memória do barro.
O amanhecer cruel,
o adeus inevitável,
o fardo da responsabilidade,
o peso da tradição.
Aí se as muralhas falassem,
contariam de lágrimas vertidas,
de juramentos quebrados,
de sonhos desfeitos.
Aí se as muralhas pudessem,
libertariam as almas aprisionadas,
revelariam a verdade oculta,
transformariam a dor em esperança.
Mas as muralhas permanecem em silêncio,
guardiãs do passado,
testemunhas mudas de um amor eterno,
preso nas entranhas de Ratanaba.