“Carimbo Não Protege”

Ela foi à delegacia com medo nos olhos, 

carregando no peito o grito que não coube em casa. 

Preencheu o papel, pediu proteção, 

mas o papel não tem braços, nem escudo, nem pressa.

 

O agressor sorriu — ele conhece o sistema, 

sabe que a medida é só tinta sem presença. 

Enquanto ela dorme com a luz acesa, 

ele ronda, ameaça, e o Estado silencia.

 

Registro feito, protocolo seguido, 

mas quem protege a mulher do descaso? 

Quantas ainda vão morrer com medida ativa, 

com nome na lista e corpo no laço?

 

Feminicídio não é tragédia — é rotina. 

É o desfecho de um ciclo que ninguém interrompe. 

São mulheres sob mira, sob medo, sob luto, 

e homens covardes que se escondem atrás do costume.

 

Ela não quer flores, nem homenagens tardias. 

Quer viver. Quer justiça que funcione. 

Quer que o papel vire presença, 

e que o Estado seja mais que um carimbo no nome.

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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