Clareira abre diante da palavra

pedra escura se dissolve em claridade

passo vacilante encontra firmeza

mãos cansadas descobrem o gesto da esperança

luz não vem inteira, mas suficiente

fagulha que acende travessias

na sombra mais densa, sinal discreto

vento traz lembrança de futuro

coração pesado aprende a respirar devagar

olhos encontram frestas onde antes era muro

caminho não se mostra inteiro

apenas trechos, como páginas soltas

silêncio deixa ouvir o que antes se escondia

força brota do chão rachado

ninguém caminha sozinho, mesmo no deserto

a memória da água sustenta o passo

palavra dita em momento exato abre clareiras

cansaço não desaparece, mas se torna leve

na noite, lampejo indica direção

há quem busque atalhos, há quem aprenda a espera

a espera também é caminho

raízes subterrâneas sustentam os galhos altos

pássaro pousa em fio de luz

quem observa descobre movimento no imobilismo

verdade não grita, apenas sussurra

sussurro suficiente para não perder o rumo

cada passo escrito no pó é testemunho.

Mesmo quando estrada parece não existir

há sempre um rastro de luz possível.