Distante do passado
Contos | 2025 - Antologia Edson Bento e Convidados - Conexão com o universo | Manoel R. LeitePublicado em 01 de Outubro de 2025 ás 11h 06min
Em meio ao trânsito caótico, com buzinas, motores apressados a espremer insistentemente no asfalto. Apenas a pressa vem a mente, uma sensação de urgência que estronda em minha cabeça. Tudo é atraso, tudo se tem pressa. Músicas na playlist servem de disfarce, me apressa ainda mais. Enquanto espero no semáforo passo para rádio, selecionar tudo na vida cansa, porém sempre foi a minha escolha. Estar no controle de tudo para que meus objetivos sejam alcançados. Apenas a soma de todas as decisões. Decidir agora aceitar a imprevisibilidade, e, talvez na ilusão do locutor informar o porque e como está o congestionamento. Como se o porque já não fosse óbvio: véspera de feriado, trechos em obras, e, talvez na pressa ou falta de sinalização algum acidente incidental novamente. Mas, a informação não veio no seu lugar um rock das antigas que dizia para ter mais paciência, melodia calma de uma banda chamada armas e rosas. Tudo combina, mesmo que aparentemente destoa dos estereótipos. Após a música o locutor informa a hora, não me lembro qual era. E, na verdade não faz mais sentido. O que realmente ficou foram frases soltas:
_ Dez quilômetros de congestionamento. Possibilidade de chuva forte. Cuidado com trechos em obras! Desvios nos seguintes trechos... E, aquele final pedindo prudência e desejando uma boa viajem.
O carro parado normalmente dispara o meu coração, pressa em tudo, pressa em sobreviver e sobrepor. Em uma estrada já conhecida pouco se observa, tudo está ali. Mas quando a escolha é apenas ir devagar nota-se algumas mudanças comércios novos e velhos. Mudanças de uma cidade em crescimento. Der repente o rádio apresenta.
_ Atendendo a pedidos, esta música irá levar os ouvintes aos idos de 1980. E para aqueles que não viveram essa época sintam-se embalos pelo som da Banda Blitz e A Dois Passos do Paraíso.
Naquele momento o tempo parecia não apenas parar. E, sim recuar a uma década que parecia perdida em mim. O trânsito caótico não tinha importância, apenas todas as conexões daquela melodia. Quem eu fui, quem eu sou. Acima de tudo quem eu nem imaginava que seria no hoje e no amanhã.
Quando ao final o saudoso Evandro Mesquita afirma que:
_ Música boa não tem prazo de validade.
Só pude dizer em pensamento:
É meu velho realmente não só música. Mas tudo que é bom não tem prazo de validade. Principalmente sonhos e pessoas.
Continuei mas paciente naquele trânsito. E, talvez por um breve tempo com a minha própria vida.
Comentários
Bravo, adorei este conto que descreve muito bem nossa realidade, A dois passos do paraíso é muito bom! Obrigado por sua participação, agora mais calmo leve a vida com equilíbrio entre autoconhecimento, ação e conexão com o mundo!
Edson Bento | 01/10/2025 ás 13:55 Responder ComentáriosIsso indica que s paciência é uma das mais belas virtudes!
Lorde Égamo | 01/10/2025 ás 15:49 Responder Comentários