ENCONTRO PRECIOSO: O REENCONTRO DE ALMAS
Contos | 2025 - Antologia Dolores Flor e Convidados - A Viagem | Edson BentoPublicado em 12 de Novembro de 2025 ás 09h 14min
Encontro Precioso:
O Reencontro de Almas
Sinopse:
"Encontro Precioso: O Reencontro de Almas" é uma tocante narrativa que explora o amor inquebrantável entre mães e filhos, mesmo diante da adversidade. Adanna, uma mulher forte e resiliente, guarda um retalho colorido que representa sua conexão com o filho Kofi, separado dela pelas duras realidades da escravidão. Através de desafios emocionais e separações dolorosas, a história revela a esperança de um reencontro que transcende o tempo e as circunstâncias. Em um cenário de opressão e luta, a obra celebra a força do amor e a promessa de que, mesmo em meio à dor, os laços familiares podem florescer novamente.
Capítulo 1
Diz uma lenda que, ao embarcarem da África para o Brasil, as mães negras, presas e acorrentadas nos porões dos navios negreiros, tinham o hábito de confeccionar minúsculas bonequinhas para seus filhos pequenos. Geralmente, cortavam tiras coloridas e marcantes de suas saias ou mangas, usando tecidos que pudessem ser reconhecidos futuramente.
Muitas dessas crianças eram separadas de suas mães nos portos, e a dor cortava-lhes o coração. Frequentemente, eram vendidas para famílias ricas e transportadas para o Brasil e a Europa para servir como serviçais. Com a esperança de um dia se reencontrarem, as mães escondiam as bonecas nos cabelos das crianças, implorando que as guardassem para o resto da vida. Caso o reencontro ocorresse, seria algo maravilhoso e inesquecível.
Houve relatos de que alguns desses encontros de fato aconteceram. Um deles chamou a atenção do mundo: Adanna, uma escrava quilombola, servia um fazendeiro rico no interior da Bahia, sendo uma serva dedicada e de grande confiança. O fazendeiro, já idoso e precisando de mão de obra, comprou três jovens negros fortes e belos, vindos de diferentes regiões da África: Kofi, Igbo e Akin, designados para cada setor da fazenda.
Adanna tomou profundo apreço por eles e, nutrindo a esperança de encontrar seu filho, passou a observá-los com um olhar materno, aquele que pressente e deseja que as coisas aconteçam. Foi assim que ela sentiu algo no olhar de Kofi: um olhar terno, cheio de saudade da mãe, sem saber como ou onde encontrá-la. Ele jamais poderia imaginar que sua mãe querida estava tão próxima!
Adanna teve uma ideia brilhante: pediu ao patrão permissão para limpar o aposento — ou melhor, o galpão — onde Kofii dormia e descansava quando possível. Algo tomou seu coração, que pulsava de esperança. Ela foi procurar a bonequinha e, para sua alegria e espanto, a encontrou escondida dentro de um pequeno aparato de couro, preservado com as cores verde e vermelha da barra de sua antiga saia!
Capítulo 2
Adanna guardou por toda a vida aquele retalho colorido e agora estava diante de seu filho, Kofi. Se não fosse uma mulher forte, de fibra, não teria suportado aquele puro momento de exaltação!
Conhecia muito bem seu patrão, e o medo bateu em seu coração: será que ele aceitaria seu filho ali para viverem em família? Ela estava cansada, e devido à sua idade avançada, já não conseguia realizar todas as tarefas da casa. Kofi poderia ser vendido a outro fazendeiro ou senhor de engenho!
Já havia passado um bom tempo, mas Adanna resolveu guardar o segredo enquanto pudesse viver ali, aos olhos de seu filho. Porém, sua saúde não era a mesma. Em uma manhã chuvosa e fria, Adanna adoeceu e passou vários dias acamada. Durante este período, ela não viu o filho, que, atarefado, só aparecia para receber as ordens do fazendeiro.
O que ela não sabia era que o fazendeiro tinha filhos de outro casamento, e uma de suas filhas morava no Rio de Janeiro, em uma bela mansão. O fazendeiro, de bom coração, resolveu mandá-la para a casa da filha para que pudesse descansar e cuidar da saúde debilitada. Assim, mais uma vez, ela foi separada de seu filho, sem a certeza de que um dia pudesse revê-lo!
A mansão tinha vários empregados, mas estava sempre precisando de guardas, vigias, motorista particular e também guarda-costas. A produção na fazenda já não era a mesma e não comportava mais manter os três escravos. Armindo, o fazendeiro, então decidiu enviar Kofi ao Rio de Janeiro, para a proteção de sua filha Karol, como guarda-costas!
Adanna, já medicada, sentia-se melhor e ajudava Karol em alguns afazeres, mas a tristeza a corroía por dentro. Naquele momento, sentia remorsos por não ter compartilhado o segredo com Kofi.
Em um belo domingo à tarde, Kofi chegou à mansão e foi apresentado a Karol, que simpatizou muito com o recém-chegado. Adanna entrou na sala, deparou-se com Kofi e, antes que ele a cumprimentasse, desmaiou. Foi um alvoroço, e logo trataram de reanimá-la!
Mas, antes que ela se recordasse totalmente, balbuciou algumas palavras que deixaram todos boquiabertos: "Meu querido filho". Três palavras que deixaram Kofi sem chão. "Mãe, é você?", disse ele com a voz trêmula. Os dois se abraçaram e choraram copiosamente. Karol entendeu tudo perfeitamente e prometeu dar abrigo aos dois para sempre!
Assim, Adanna apresentou o retalho a Kofi, exatamente da mesma cor da bonequinha confeccionada no porão do navio! Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas este Encontro Precioso se tornou, novamente, um Reencontro de Almas!
Fim.
Esta história, nascida de uma lenda de resistência e fé, celebra a força indomável do laço materno. Que a memória de Adanna e Kofi nos lembre que, mesmo nas maiores adversidades, o amor verdadeiro encontra um caminho, seja através de um pequeno retalho guardado, seja no reencontro que desafia o tempo e a separação. Que a esperança, como a cor vibrante daquele tecido, jamais se apague em nossos corações.
Edbento