Depois do almoço, começava a movimentação. As roupas leves eram escolhidas, os cabelos presos às pressas e os pés, ainda sujos da terra do quintal, corriam ansiosos para o caminho que nos levaria ao rio. Era o momento mais esperado do domingo. 

 

A trilha entre as árvores era sempre uma descoberta. O cheiro do mato fresco, os galhos se curvando com o vento, e então, lá estava ele—o Rio Batelão, brilhando sob o sol da tarde, convidando-nos para seu abraço gelado. 

 

Entrávamos devagar, sentindo a água subir pelo corpo até nos entregarmos completamente à correnteza. Risadas ecoavam pelo ar enquanto mergulhávamos, disputávamos quem conseguia ficar mais tempo debaixo d’água ou simplesmente flutuávamos, olhando o céu infinito acima. 

 

As borboletas sempre estavam lá, colorindo a margem como pequenas pinturas vivas. Elas pairavam sobre as flores e sobre a água, como se dançassem ao ritmo da brisa. Eu ficava encantada, observando aquele espetáculo, como se o mundo se tornasse um livro ilustrado diante dos meus olhos. 

 

O tempo corria sem pressa naquele rio. O sol começava a se esconder atrás das árvores, tingindo a água com reflexos dourados. Sabíamos que logo seria hora de partir, mas ninguém queria quebrar o encanto.

Antes de ir, sempre havia aquele último mergulho—um instante de despedida, como se quiséssemos levar um pedaço do rio conosco. A água fria abraçava nossos corpos, e as risadas se misturavam ao vento, ecoando entre as árvores.

E então, com os pés ainda molhados e o coração leve, seguíamos de volta, carregando na pele o frescor da água e na alma a certeza de que, no próximo domingo, o Rio Batelão nos esperaria novamente—intacto, eterno, como um pedaço da nossa felicidade.

Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO

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