Entre o Céu e a Terra

Poemas | Carlos Roberto Ribeiro
Publicado em 04 de Maio de 2025 ás 15h 29min

(Um texto poético-filosófico, introspectivo e simbólico que fala de um período em que, várias vezes, sonhei que estava flutuando. É como um espelho da alma que um dia flutuou entre o céu e o chão.)

 

Flutuei, não como quem voa,
mas como quem teme o voo.
O céu me chamava com mãos de luz,
mas meus pés —
eram raízes, silenciosas, densas, fiéis.

 

Não era voo, era suspensão.
Como um segredo que se sustém entre o sim e o não,
como um grito que não ousa atravessar os lábios.
Eu me erguia do chão — mas não partia.
Suspenso no ventre do ar, entre mundos.

 

Havia prazer —
um êxtase sutil, quase sagrado,
como se cada molécula ao redor
sussurrasse que eu era mais que corpo.
Mas havia também o peso do olhar de dentro,
a voz do medo, ancestral e densa,
sussurrando:
"Quem sobe demais, vê demais.
Quem flutua, vê o abismo dos dois lados."

 

Naquela época, eu era transição.
Nem criança, nem adulto,
nem sonho, nem vigília,
nem céu, nem chão.

 

Os sonhos cessaram como cessam os ventos
quando já ensinaram o que tinham de ensinar.
E eu desci — não por vontade,
mas porque toda alma que flutua
precisa um dia encontrar seu chão.
Mesmo que ele doa.
Mesmo que seja feito de espelhos.

 

Hoje, sei:
Não flutuava para fugir.
Flutuava porque, naquele tempo,
minha alma ainda ensaiava
o milagre de ser leve
num mundo que exige tanto peso.

 

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