Fumaça na xícara

Contos | 2025 - Antologia Rosy Neves e Convidados - Essência da Alma | Manoel R. Leite
Publicado em 01 de Outubro de 2025 ás 15h 37min

Conta-se que certa vez um antiquário do Japão antigo parou em um casa de chá, e, quando bebia ficou muito tempo olhando aquele artefato, e, decidiu comprá-la. Um comerciante que via a cena ficou muito intrigado e pensou

_ Se o antiquário comprou é porque deve ser valioso. - e de súbito saiu correndo para alcançá-lo e fazer uma proposta de compra.

O antiquário ficou muito surpreso, e sorrindo disse:

_ Meu senhor, esta xícara não vale nada. A minha curiosidade é que ela tem uma rachadura. E, com isso a fumaça parece fazer um movimento diferente. Passar bem!

Seguindo o seu destino acreditava que o assunto estava encerrando. Mas passando não só o comerciante, como também muitas outras pessoas iam a casa o antiquário e no seu estabelecimento fazerem propostas cada vez mais elevada por aquela xícara, que segundo os possíveis compradores deveria ser rara e ter um valor comercial incalculável, por essa razão ele não a vendia.

Com o passar do tempo, e muita insistência a situação ficara insustentável até que o antiquário resolveu fazer a única coisa que findaria a situação. Propôs um leilão daquele objeto comum tanto cobiçado.  E assim foi feito.

Muitas pessoas interessadas, e, tantas outras curiosas se fizeram presentes. Com muitos lances a xícara foi arrematada por um valor 500 vezes maior do que o antiquário havia comprado. Parecia que estava tudo resolvido, até que o assistente do leiloeiro por descuido na hora que ia mostrar a peça e entregar ao comprador bateu o braço na mesa de exposição e deixou a xícara cair ao chão. Todos ficaram impactando com a situação. O antiquário ficou em paz pois o que ele mais queria era encerrar aquela situação. Naquele momento ele se abaixou e uma a uma foi pegando os pedaços da xícara. Ele a colou e colocou em uma estante atrás de sua mesa de trabalho.

Passado-se dois anos daquele leilão um famoso apreciador de chá o visitou. Ambos conversaram e tomaram chá como era de costume. Mas antes de sair o visitante lhe disse:

_ Quero comprar-lhe a xícara do leilão.

Atônito respondeu:

Mas ela está toda remendada! Eu a colei da melhor maneira possível, mas não recomendo utilizá-la em cerimônias de chá, é jogo único e não seria elegante tamanha disproporção como outras xícaras. Além do mais é uma porcela comum, sem valor como já havia dito tantas vezes antes.

Mas o visitante insistiu.

_ Sei de tudo isso. Você me conhece a muito tempo e sabe que não compraria se não conhece o seu valor por isso peço que me venda.

_ Mas qual o seu valor? - perguntou o antiquário.

_ O seu valor está em suas rachaduras e sua histórias. Ela nos faz lembrar que a jornada e a história são muito mais valiosas do que a sua origem.

E assim convenceu o antiquário que vendeu a xícara por um valor 2 mil vezes maior do que ele havia comprado.

Comentários

Brilhante! Um boa reflexão! Faz-nos revelar que o valor de cada um de nós, embora quebrados, remendados, esta’ na nossa história! Bravo!

Lorde Égamo | 01/10/2025 ás 15:57 Responder Comentários

Está é uma história inspirado em Akimoto Suzutomo um adepto da cerimônia do chá, e figura ilustre do Japão antigo.

Manoel R. Leite | 01/10/2025 ás 16:13

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