Os abraços que não demos, talvez estejam guardados em algum canto silencioso do tempo, junto com os “volto já” que nunca voltaram, com os “te amo” que ficaram entalados na garganta. Os abraços que não demos não desaparecem — eles repousam em nós, como sonhos adormecidos.

Tem abraços que vivem no corredor da saudade, abraços que a vida impediu, que o orgulho adiou, que o acaso tratou de esconder atrás de um desencontro qualquer.

Aqueles que não demos por timidez tremem ainda nas mãos que hesitaram. Os que não demos aos pais, por acharmos que sempre haveria tempo, doem mais quando o tempo resolve ir embora antes de nós.

Há abraços que mereciam ter acontecido em estações, aeroportos, portas entreabertas. Abraços que seriam ponte, mas viraram rio entre margens opostas.

Será que esses abraços criam um lugar só deles? Um campo invisível onde esperam com paciência que um dia sejamos mais coragem que dúvida? Ou talvez se transformem em outras formas de afeto, como um olhar demorado, uma mensagem enviada tarde da noite, um silêncio que abraça por dentro.

O fato é que os abraços que não demos não se perdem no esquecimento — eles encontram morada nos gestos que ficaram por fazer. E às vezes, tudo o que precisamos é lembrar que ainda podemos alcançá-los, mesmo que não seja com os mesmos braços, mas com o coração aberto de quem aprendeu que o afeto não gosta de espera.

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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