Inundação

Contos | Valter Figueira
Publicado em 08 de Maio de 2024 ás 20h 18min

Ainda estava na aldeia com sua vagarosa mula quando ouviu os fogos sinalizando o início do esmagamento das uvas. A descida é íngreme teria que ter todo cuidado do mundo para não pisar em falso e cair no vale. Vale fértil e a produção supera todo os esforços na subida até a aldeia. Precisa de mantimentos que na sua terrinha não produz. Escolheu viver ali, isolado cercado de seus animais na solidão do vale. Corria o perigo da barragem estourar e não dar tempo suficiente para subir a ladeira e fugir da força avassaladora da água. A mesma água que fornece o alimento pode matar. Os amigos da aldeia sempre dão o alerta. Cuidado! A qualquer dia sem avisar tudo vem abaixo e sua casinha será levada pelas águas da represa. Sua mula vai num compasso cadenciado, medo de cair, ou pressentindo o que vem por aí. A sirene de alerta tocou. Algo na barragem não está certo. O vale será inundado e sua casa será levado pelas águas tormentas que tudo varre. Tirou a carga da mula e soltou para que ela procure um melhor caminho para fugir. De quatro foi subindo a ladeira íngreme o mais forte que seu coração permite. Conseguiu. A água transbordou e viu o telhado de sua pequena casa passando próximo aos seus pés. Do outro lado a mula observava o seu dono. Tristes e aliviados por terem salvo suas vidas. Subiu de volta a aldeia e ainda dava para ouvir os cantos das mulheres esmagadoras de uvas.

Comentários

'

Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.