Inverno Corpo a Corpo
Poemas | 2025 - JULHO - Noites de inverno: poemas contos e crônicas à beira do fogo | Carlos Roberto RibeiroPublicado em 08 de Julho de 2025 ás 14h 01min
No frio que chega sorrateiro,
quase em segredo,
o corpo sente antes da alma,
e o desejo se espreguiça no cobertor do medo.
A cidade se encolhe nas esquinas,
mas por dentro… a gente inflama.
Não é só lenha que esquenta,
é presença que chama.
Porque neste frio, meu bem,
o bom mesmo
é um delicioso caldo verde
com cheiro de casa antiga,
um chocolate quente subindo na caneca,
e um cobertor de orelha para dormir empernado,
de conchinha,
feito promessa dita com o corpo.
É tempo de colo, de toque demorado,
de beijo que derrete a fala.
O inverno ensina a escutar silêncios,
e a ler a pele com a palma.
Roupa grossa por fora,
fina intenção por dentro.
A gente se esconde dos ventos,
mas se mostra no entretempo.
É quando a cama vira cais,
e o corpo, maré que sobe.
Quando o gemido é sussurro
e a saudade vira o que se resolve.
E o frio, ah… o frio não é vilão,
é desculpa perfeita, é pretexto sagrado:
para se perder entre braços e pernas,
para amanhecer atrasado.
Quem disser que o inverno é tristeza
é porque não soube viver sua arte:
é estação de olhar demorado,
de desejo quieto, mas estandarte.
E assim, entre goles e conchinhas,
entre caldos e carícias quentes,
descobrimos que há febres que curam,
e que amar no inverno...
é ser chama viva, ardente.