Mascate da Esperança

Poemas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | JOSETI GOMES
Publicado em 02 de Novembro de 2025 ás 22h 47min

MASCATE DA ESPERANÇA

Joseti Gomes

 

“Escutem!

É o apito do trem!

Corram! Corram!”

 

Aqueles que tinham pressa

em saber das novidades,

se debruçam sobre as malas

que estão de bocas abertas

sorrindo tal qual o Chico,

o mascate da esperança.

São tecidos coloridos,

são objetos dourados,

e são os sonhos pintados

nos olhinhos das crianças.

 

Parte de malas vazias...

Volta de malas recheadas!

Traz brinquedos diferentes

e pinturas que embelezam

as mocinhas da cidade

que enfeitam as janelas,

na espera desses moços

que usam águas de cheiro

trazidas pelo mascate.

 

“Eu viajo em tua mala!

Eu parto sempre contigo!

Eu vivo de ser mascate

e vender especiarias

que não existem nas vilas.

Trago aromas com sabor...

Trago rendas importadas

e papéis para os segredos

escritos nas lindas cartas

que se fazem perfumadas

pra revelar um amor.”

 

“Eu sou também o mascate

desbravando o mundo inteiro!

Vendo fiado e anoto,

num caderninho de bolso,

as somas do meu dinheiro.

No chapéu, guardo as lembranças

de cada estação que chego

e, no relógio dourado,

marco o tempo onde descanso

pra depois partir de novo...”

 

“Conheci muitos lugares

e culturas diferentes.

Conheci o mar imenso

com seu vestido rendado

dançando sob o negrume

do céu de manto bordado.

Conheci alguns meninos

que não usavam sapatos,

pois voavam pelos galhos

de ninhos pouco habitados...”

 

“Falei outros dialetos

que nunca pensei falar.

Colhi flores que não murcham

e sobrevivem sem água

ou terra para deitar.

Senti o calor das lãs

que não habitaram campos

e voltei de malas cheias

de castiçais e de santos.”

 

“Então, eu voltei pra casa

pro meu corpo de menino.

Sonhei enquanto viajava,

na tua mala, mascate!

Sonhei ser um viajante

que parte trazendo o brilho

pros olhos de diamantes...”

 

“O espelho da beleza

pra quem não sabe ser belo,

a boneca pra menina

que nunca embalou o sono

de dois olhinhos que piscam,

e o carrinho de rodas

que desliza, se der corda,

entre os pezinhos ariscos.”

 

“Quero ser igual a ti,

Chico Mascate da vila!

Quero trazer a alegria

onde habita o silêncio...

Quero voar nestes trilhos

que te levam e te trazem

feito uma cuia de mate

e chegar de malas cheias

do mar, de muitas areias,

que brindam espumas brancas!”

 

“Se eu deixar de ser criança,

eu quero ser um mascate!”

 

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