Minhas Saudades
Trago comigo um baú que não se abre com chave.
Dentro dele, dormem minha infância,
minhas tardes de chão quente e pés descalços,
meus olhos brilhando por tão pouco.
O tempo corria devagar ali,
e eu não sabia que era feliz.
Carrego nas dobras do peito
a adolescente que sonhava alto
e tropeçava nos próprios medos,
mas ainda acreditava no depois.
Lembro dos cadernos rabiscados,
dos amores que só existiam na imaginação.
Saudades da juventude que chegou como vendaval,
trazendo coragem, incerteza e fome de mundo.
Eu quis mudar tudo,
mas foi a vida quem me mudou.
Havia dor já naquela alegria,
mas eu não sabia decifrá-la.
E mesmo a fase adulta, tão pesada,
povoada por perdas, partidas e silêncios
é parte do que me faz inteira.
Sinto saudade da mulher que fui,
mesmo ferida, mesmo cansada,
porque nela havia uma força que nem eu sabia.
Não é só do que passou que sinto falta.
É daquilo que só existiu uma vez.
Não terei outra infância,
nem outra chance de recomeçar aos dezessete.
Não voltarei a ser quem fui aos trinta,
nem terei de novo o brilho que o tempo levou.
Minhas saudades não pedem retorno.
Elas apenas sentam-se comigo,
no fim de cada dia,
e me lembram, em silêncio,
que vivi.
E que isso, apesar de tudo,
foi belo e me trouxe até aqui..