Não era amor — era costume

Você dizia que era amor, mas o toque vinha por obrigação, as palavras murchavam antes do fim, e eu aprendi a ler entre os suspiros: não era carinho, era rotina que vestia disfarce.

O beijo sem vontade, o olhar que passava por mim sem ficar — fui ficando invisível enquanto me acostumava a implorar migalhas de um sentimento que já não morava ali.

Te dei tudo, como quem acredita, como quem espera que o calor volte um dia. Mas você se perdeu nos atalhos, e eu fui ficando frio — não por falta de amor, mas por excesso de espera.

Quantas vezes confundi silêncio com respeito? Quantas vezes aceitei ausência como paz? E quando percebi, não éramos mais dois, éramos um tentando, e outro apenas ficando.

Você me perdeu quando esqueceu de perguntar como eu estava, quando o costume ocupou o lugar da vontade, e eu passei a dormir ao lado de um desconhecido que tinha o mesmo nome, mas não mais o mesmo afeto.

Agora não dói — não como antes. Porque aprendi que o amor de verdade não se esconde, não economiza gesto, não sobrevive só de lembrança.

Você me perdeu. E tudo bem. Porque não era amor — era costume. E disso eu não preciso mais.

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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