O Barulho do Mundo e o Silêncio das Pessoas
Crônicas | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 02 de Julho de 2025 ás 21h 22min
O Barulho do Mundo e o Silêncio das Pessoas
Vivemos cercados de barulho. Carros, notificações, vozes apressadas, promessas gritadas em outdoors. O mundo fala alto o tempo todo. Mas, curiosamente, as pessoas estão cada vez mais silenciosas — não no volume, mas na escuta.
Ninguém mais pergunta “você está bem?” esperando uma resposta sincera. É só um cumprimento automático, como o “bom dia” que se diz sem olhar nos olhos. A dor virou algo que se digita em letras minúsculas, entre um emoji e outro, esperando que alguém leia — mas ninguém lê.
A gente se acostumou a ver gente dormindo na rua como parte da paisagem. Crianças pedindo moeda no semáforo como se fossem parte do trânsito. A miséria virou invisível. A tristeza, descartável. A empatia, opcional.
E o mais assustador é que tudo isso parece normal.
A normalidade virou um escudo. Um jeito de não se envolver, de não sentir demais, de não se deixar afetar. Porque sentir cansa. E ninguém quer se cansar mais do que já está.
Mas às vezes, no meio desse silêncio emocional, alguém quebra o padrão. Um gesto simples — um olhar demorado, uma escuta atenta, um “fica aqui comigo” dito sem pressa. E aí, por um instante, o mundo desacelera. O barulho diminui. E a gente lembra que ainda é possível ser humano.
Mesmo que o mundo insista em nos ensinar o contrário.
Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.