O Dilema de Existir entre as Linhas
Poemas | Carlos OnkowePublicado em 03 de Setembro de 2025 ás 15h 57min
Fiz um poema, um dilema.
Não sabia se falava de mim ou do mundo,
ou daquela rua onde a maresia
entra pela janela e me acorda antes do sol.
Tantas vozes dentro, todas urgentes,
todas querendo ser a primeira palavra.
Escrevi com a mão trêmula,
mas com o peito firme,
como quem teme cair e ainda assim se lança.
Cada verso me feriu um pouco.
Era como abrir janelas em um quarto escuro
e descobrir que o que doía
não era a escuridão, mas a luz que entrava,
com seu excesso, sua crueldade.
No meio do poema, parei.
Me questionei se era um texto
ou se era eu mesmo me atravessando,
feito flecha lançada sem alvo,
feito oração sem santo para ouvir.
No fim, percebi que o poema não era meu.
Ele apenas usou meu corpo para nascer,
como se algo antigo, esquecido,
tivesse me escolhido como porta.
Fechei o caderno, mas não me fechei.
Porque agora sei:
o dilema não era escrever.
Era me permitir existir entre as linhas,
mesmo quando elas sangram em silêncio.