O Menino que Sabia Sonhar
Poemas | 2025 - ABRIL - Folhas ao vento: fragmentos de outono | Carlos Roberto RibeiroPublicado em 04 de Maio de 2025 ás 15h 25min
Poema poético-filosófico com visualidade onírica (sobre meu sonho, aos 8 anos de idade).
Quando o mundo ainda era
grande demais para os meus pés,
e os medos tinham nomes
que só a noite conhecia,
eu sonhei.
Com meu pai.
Com monstros.
E com portas demais para escapar.
Corríamos —
de sala em sala,
de sombra em sombra,
como quem tenta sair de si
sem deixar para trás o próprio nome.
Havia monstros,
sim.
Mas havia também
a sua mão apertando a minha,
e o peso silencioso do medo
nos seus olhos de adulto.
Então,
no meio do caos que o sonho moldava,
algo em mim
(ou alguém mais antigo do que eu)
falou:
"Pai...
não tenha medo.
Isso é apenas
um sonho."
A palavra flutuou,
quebrou o enredo,
e fez os monstros
tremerem.
Porque às vezes
a lucidez não vem com a idade,
mas com a alma
que reconhece a ilusão
mesmo envolta em carne e terror.
E naquele instante,
não foi o pai que protegeu o filho,
foi o menino
que desvelou o real:
O medo não é o fim.
A fuga não é o caminho.
A consciência...
é a chave de todas as portas.