O milagre natalino

Contos | 2025 - DEZEMBRO - Luzes e esperanças: Histórias e poesias para aquecer o Natal | Isolti Cossetin
Publicado em 16 de Junho de 2025 ás 20h 21min

O milagre natalino

Na véspera do Natal, enquanto as casas brilhavam com luzes piscando e as vitrines exibiam árvores carregadas de bolas coloridas e promessas de felicidade, João caminhava descalço pelas calçadas de paralelepípedo, segurando nas mãos um pedaço de papel amassado. Era sua cartinha para o Papai Noel.

Ele a havia escrito sozinho, com letras tortas e uma caligrafia suada, rabiscada entre os deveres da escola e o barulho do barraco onde morava com a mãe e dois irmãos pequenos. Na carta, não havia pedido por brinquedos caros nem por bicicletas velozes. João só queria uma coisa:

“Querido Papai Noel, me dá um chinelo e um pão bem recheado?”

A mãe, dona Tereza, fazia o possível para não deixar faltar o básico. Trabalhava lavando roupas e cozinhando para fora, mas os dias eram difíceis, e o Natal, para eles, era mais uma noite em que o estômago doía mais pelo contraste com os cheiros da rua do que por qualquer novidade à mesa.

Naquela tarde, João soube que o “Papai Noel da cidade” estaria na praça central distribuindo balas e tirando fotos. Mesmo com vergonha da roupa surrada, ele foi. Guardava no olhar uma esperança que nenhuma pobreza conseguia apagar.

Na fila, ouviu crianças pedindo videogames, bonecas falantes e patinetes. Quando chegou sua vez, o bom velhinho sorriu ao vê-lo, e com uma voz grave e amável perguntou:

— E você, meu amiguinho? O que deseja neste Natal?

João esticou a carta com as mãos suadas.

— Eu só queria um chinelo que coubesse no meu pé e um pão grande… com bastante coisa dentro…

O Papai Noel engoliu em seco. Leu o bilhete devagar, segurando o choro atrás da barba branca. Não respondeu com promessas, apenas acariciou a cabeça do menino e o abraçou com força.

Naquela noite, já em casa, João fingiu não estar triste. A mãe o cobriu com um cobertor fino e beijou sua testa.

— Sonha bonito, meu filho…

Ao amanhecer do dia 25, João acordou com um cheiro diferente no ar. Ao sair na pequena varanda, encontrou uma sacolinha pendurada na porta: dentro, um chinelo azul novinho e um sanduíche ainda quente, embrulhado com um guardanapo e uma pequena etiqueta:

“Para João — com carinho. Papai Noel.”

Junto, havia uma mensagem:

"A magia do Natal não está no presente, mas no coração de quem acredita. Obrigado por me lembrar disso."

João sorriu. Um sorriso leve, feliz, completo.

E naquela manhã de Natal, o menino pobre que só queria um chinelo e um pão recheado descobriu que os milagres existem — às vezes, em forma de simplicidade.

 

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