O Parque que Vive em Mim

Em Sinop, há um recanto onde o tempo desacelera e a alma encontra repouso. Sempre que cruzo os portões do Parque Florestal, sinto como se estivesse atravessando um limiar para um universo paralelo, onde a vida pulsa em sintonia com o verde, com o vento, com a água. Cada visita é um reencontro com algo que sempre esteve em mim, mas que só ali, nesse espaço de tranquilidade absoluta, se revela por inteiro.

Ali, entre as árvores que se erguem majestosamente, encontro refúgio. Sinto-me pequeno diante da grandiosidade dessas sentinelas verdes, que carregam histórias muito anteriores à minha, testemunhas silenciosas da passagem dos anos. O canto dos pássaros, ora delicado, ora vibrante, cria uma sinfonia que me acolhe e embala meus pensamentos, como se soubessem exatamente o que minha alma precisa ouvir. Caminho devagar, sem pressa, deixando os pés sentirem a textura do chão—ora úmido, ora seco, sempre vivo—absorvendo cada aroma, cada nuance de luz filtrada pela copa das árvores. Há uma poesia escondida nas sombras que dançam ao ritmo do vento, no contraste das folhas que caem e das que insistem em permanecer.

O lago é um espetáculo à parte. Suas águas refletem o céu em um azul que se dissolve entre os galhos à margem, um espelho da imensidão que me rodeia. As tartarugas deslizam suavemente pela superfície, ora mergulham, ora emergem, como se brincassem com o próprio tempo. Há grandes e pequenas, lentas e ágeis, cada uma seguindo seu próprio ritmo—uma metáfora perfeita para a vida e seus caminhos imprevisíveis. Observar esse movimento sereno me traz uma calma indescritível, uma paz que transcende a simples contemplação. O reflexo dos raios de sol tremula sobre a água como um mosaico dourado, e por instantes, esqueço-me de qualquer preocupação, como se o lago tivesse o poder de dissolver tudo o que pesa no peito.

A natureza me preenche, me equilibra. Amo o simples fato de estar ali, sem pressa, apenas existindo, respirando o ar puro, sentindo a brisa que parece sussurrar segredos antigos. É como se o parque tivesse memórias próprias, como se guardasse histórias dentro do silêncio de suas árvores e as entregasse, aos poucos, a quem se dispõe a escutá-las. O Parque Florestal é mais do que um local de passeio; é um pedaço de mim, uma extensão do que sou, do que sinto. Ele me ensina a desacelerar, a contemplar, a encontrar beleza na simplicidade. E, acima de tudo, ele me ensina sobre pertencimento—sobre como certos lugares não são apenas visitados, mas vividos, guardados no coração para sempre.

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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