O quarto levemente iluminado, trazia os detalhes das mudanças. Transformações que o tempo imprime em seus atos. Para quem observa um quarto de criança, para quem enxerga além do óbvio, um castelo de sonhos e possibilidades. Em um dos cantos não se encontrava um trono suntuoso, e sim um berço, branco, arejado, já sem tantos adereços ao seu redor.

Mas naquele canto um turbilhões de emoções se formara. Ali naquele frágil móvel muito de mim se transformou entre inseguranças e esperanças minha vida não era apenas minha. Tornara-se com o tempo uma dedicação instantânea para uma outra vida. Vida essa que vi surgir e me encantar mais a cada dia. Mesmo com sono me levantava para atender a suas necessidades era tudo que importava. Meus constantes egoísmos tornaram-se menos frequentes. Apesar de sentir a necessidade de queixa-me como muitos fazem, entendi que seria lutar contra a realidade, aquilo que era natural. Um ser frágil necessitava de mim. E, fazia o que fazia ignorando minhas necessidades e desejos. Como poderia ser diferente? Daquele momento em diante eu era um cuidador e não tinha mais motivo para sempre ser cuidado. O papel mudou como meu coração, batendo e crescendo dentro de mim. Um castelo de aventuras em poucos centímetros quadrados de descanso e cumplicidade.

Hoje olho para o pequeno berço e vislumbro a expectativa da vinda, o momento da chegada, a alegria do sono, sorrir e brinca. Mas nunca esqueço do que senti e ainda sinto. A etapa do berço se encerra. Mas não a de aprender a conviver, ensinar e aprender. A dedicação apenas muda a forma. Porém o amor cresce com o tempo e a convivência. Eternizando para sempre a força transformadora que a criança carrega dentro de si.