Carrego comigo medos que ninguém vê. Eles não gritam — cochicham. Me acordam em silêncio, me fazem duvidar do próprio passo.

Tenho medo de ser esquecido. De passar pela vida como rascunho, sem virar verso, sem deixar pegadas em ninguém.

Medo dos olhares que me pesam, dos julgamentos que chegam antes do gesto. De ser aquilo que os outros dizem que sou sem ao menos me escutar.

Medo de não caber, de errar o tom, a roupa, o sorriso. De ser nota fora da escala, em uma música que não compus.

Às vezes, finjo coragem. Visto certezas como quem usa casacos emprestados, mas por dentro, é só pele e receio.

E mesmo assim, caminho. Com os medos debaixo do braço e a esperança costurada no peito — porque talvez, um dia, alguém olhe dentro de mim e reconheça o que nem eu lembrava: a força do que sou por trás do que pareço.

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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