PAIXÃO E PEDRA

Poemas | Antologia Clube da Poesia e Declamação Gaúcha | CARLOS OMAR VILLELA GOMES
Publicado em 03 de Novembro de 2025 ás 16h 16min

PAIXÃO E PEDRA

CARLOS OMAR VILLELA GOMES

 

A paixão é rio fecundo, a pedra parece estéril...

A paixão zomba do mundo, esquece que o mundo é sério.

A pedra segue calada, inerte, mas imponente,

Colocando em xeque-mate o que vale a alma da gente.

 

A pedra é o cio das pedradas que a gente leva da vida...

A paixão desenfreada é uma pedrada dorida;

Mas quando paixão e pedra se comungam num só ser,

A alma sente a pedrada da paixão ao florescer.

 

E o coração incandesce, e os ideais viram brasa

Trazendo alento pra um sonho que dormiu fora de casa;

Talvez a pedra derreta frente ao fogo da paixão,

Mas logo após ressuscita quando os frios tomam o chão.

 

A paixão verte da terra, é terra em alma elevada...

A pedra é a terra do tempo, é a paixão petrificada;

A pedra bombeia inerte o fio do tempo cortar

E a paixão se diverte cortando o tempo no ar!!!

 

Levei pedrada na cara nestes dias mal paridos,

Plantando estranhas searas com meus sonhos divididos;

Pois a pedra e a paixão se confundiram nos ventos

Semeando essa confusão no campo dos pensamentos.

 

Tantas paixões tão intensas, tantas sanhas disfarçadas,

Se fundem às brumas densas que firmaram suas pegadas;

As paixões viraram pedras, jogadas em catapultas

Que atacaram as taperas das minhas chagas ocultas.

 

Eu tenho paixão de pedra, pois é forte e resistente...

Persiste firme no chão, com anseios de semente;

Mas quando as sagas do mundo a jogam pra mais além,

Ela carrega meus sonhos, pechando os sonhos de alguém.

 

Eu sei bem que as pedras quebram, mas minha paixão não trinca,

Gira o mundo e se reergue em cada alma que brinca;

Defende as minhas bandeiras, empunha as minhas adagas,

E faz da história inteira parceira pras novas sagas.

 

Ainda há pouco ouvi um grito, meio cego, meio mouco,

Que retumbou sem estrelas do desencanto mais rouco;

Um grito que deveria queimar o sangue e os ossos,

E renegar as maneias de um sonho que era nosso.

 

Esse grito foi calado já no seu primeiro grão,

Pois hoje os homens têm medo de ser pedra e ter paixão;

Ficou meu peito rangendo, qual porteira abandonada,

Rezingando os desalentos de uma terra devastada.

 

A moça dos olhos lindos, que morava logo ali,

Sem pensar, ganhou a estrada procurando o que não vi;

Sem ela meu poncho negro, sem paixão, virou mortalha

E as armas enferrujaram, já sem fome de batalhas.

 

E agora paixão e pedra? E agora pedra e paixão?

Será que um resto de sonho ainda pede perdão?

A paixão virou retalhos, já não vive por si só,

E a pedra, que era eterna, sem ter paixão, virou pó?

 

Mas minha paixão resiste, a alma desassossega,

E seguem sempre luzindo, quebrando o queixo das trevas;

Eu voo sempre mais alto, não tenho medo da queda,

Me firmo na eternidade de ter paixão e ser pedra!!

 

 

 

 

 

 

 

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