Palavras não ditas

Poemas | 2025 - Antologia Rosemeire Santos e Convidados - Os versos que eu fiz | Manoel R. Leite
Publicado em 22 de Outubro de 2025 ás 17h 07min

Havia um silêncio bordado nas tardes

um quase poema preso entre os lábios

vento passava e levava o que restava de coragem

as cartas dormiam em gavetas esquecidas

tinta e tempo misturavam-se sem pressa

gestos diziam o que a voz não ousava

olhos pediam abrigo quando o mundo pesava demais

no fundo, as palavras queriam nascer

mas havia medo de que fossem mal interpretadas

ou talvez de que fossem entendidas demais

ela escrevia o que outros apenas sentiam

colhia o que o silêncio deixava cair

dava nome ao indizível

transformava pausas em poesia

como quem acende luz em sombra mansa

há quem fale muito e diga tão pouco

há quem se cala e diga o essencial

apalavras que não vieram formaram raízes

cresceram em silêncio dentro de quem espera

na pressa da vida perdemos instantes inteiros

onde o amor poderia ter se revelado

onde o perdão poderia ter voltado

mundo surpreende o poeta quando verso se cala

porque às vezes o silêncio é o que resta de mais puro

e a ausência é apenas outra forma de presença

no fim aprendem-se ouvir o que não se disse

a ler o que ficou nas entrelinhas

aceitar que viver também é deixar passar

e que o não dito, quando guardado com ternura

um dia volta, disfarçado de poesia.

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