Poema na estrada

Poemas | Manoel R. Leite
Publicado em 22 de Julho de 2025 ás 09h 45min

O asfalto risca a paisagem como quem escreve

Sem pressa nem destino traçado

Capins balançam em silêncio ao lado do vidro

O céu repousa sobre a lavoura

Que me faz criar anotações na mente onde rascunho o mundo

Cheiro de poeira quente atravessa a memória

Não há música tocando que não vire trilha para um verso

Vacas no campo não precisam entender de poesia

Elas já são parte dela

Animais caminham em paralelo ao asfalto aprendendo a prosseguir, mesmo diante de perigos

No banco de trás as palavras que não uso se acomodam

Como malas antigas que nunca são abertas

Curvas dobram meus pensamentos

Pontes costuram margem e versos

Palmeiras levantam as mão para serem notadas.

Como se quisesse responder à perguntas que não fiz

Sombra projetam pequenas lembranças

Não há discurso mais urgente que o de um sorriso

Uma placa anuncia uma cidade que desconhe o seu destino

Palavras se formam sem eu querer

Nascem dos gestos mínimos

De uma porteira aberta

De um pedaço de céu mais claro que o restante

Do barulho dos pneus ao tocarem o acostamento

De uma abelha que ousa seguir o carro por alguns segundos

Há poema no retrovisor

E no silêncio que preenche o carro quando ninguém diz nada

Há poema no que não se planeja escrever

E naquilo que insiste em nascer enquanto se anda.

Comentários

Que show!

Liliane Inácia da Silva | 22/07/2025 ás 10:04 Responder Comentários

Muito obrigado! Enquanto se dirige não é possível anotar as inspirações. Mas, sempre que possível momentos simples geram algumas reflexões.

Manoel R. Leite | 22/07/2025 ás 10:56

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