O asfalto risca a paisagem como quem escreve
Sem pressa nem destino traçado
Capins balançam em silêncio ao lado do vidro
O céu repousa sobre a lavoura
Que me faz criar anotações na mente onde rascunho o mundo
Cheiro de poeira quente atravessa a memória
Não há música tocando que não vire trilha para um verso
Vacas no campo não precisam entender de poesia
Elas já são parte dela
Animais caminham em paralelo ao asfalto aprendendo a prosseguir, mesmo diante de perigos
No banco de trás as palavras que não uso se acomodam
Como malas antigas que nunca são abertas
Curvas dobram meus pensamentos
Pontes costuram margem e versos
Palmeiras levantam as mão para serem notadas.
Como se quisesse responder à perguntas que não fiz
Sombra projetam pequenas lembranças
Não há discurso mais urgente que o de um sorriso
Uma placa anuncia uma cidade que desconhe o seu destino
Palavras se formam sem eu querer
Nascem dos gestos mínimos
De uma porteira aberta
De um pedaço de céu mais claro que o restante
Do barulho dos pneus ao tocarem o acostamento
De uma abelha que ousa seguir o carro por alguns segundos
Há poema no retrovisor
E no silêncio que preenche o carro quando ninguém diz nada
Há poema no que não se planeja escrever
E naquilo que insiste em nascer enquanto se anda.
Comentários
Que show!
Liliane Inácia da Silva | 22/07/2025 ás 10:04 Responder ComentáriosMuito obrigado! Enquanto se dirige não é possível anotar as inspirações. Mas, sempre que possível momentos simples geram algumas reflexões.
Manoel R. Leite | 22/07/2025 ás 10:56