POR UMA FLOR DO ALECRIM

CARLOS OMAR VILLELA GOMES

Minhas mãos não eram plenas,

Pois não tocaram as tuas...

A minha alma, em silêncio,

Contava noites sem lua.

O meu olhar derramado

Nas inquietudes extremas,

Jorrava seu desencanto

No poço fundo dos poemas.

Estes meus pés se arrastavam

No pó cruel dos lamentos...

Perderam vida e caminho

No açoite triste dos ventos.

Sonhos rotos, basteriados...

A dor rompendo as comportas;

Sugando a vida e a estrada

Na enchente das horas mortas.

Mas uma flor de candura

Reinventou a ternura

E aquilo que mais importa.

Pequena flor do alecrim

Veio trazer até mim

Um arco-íris de paz...

Pequena estrela do campo

Veio brilhar teus encantos

Num peito de temporais.

Não toquei a beleza das tuas mãos,

Nem vislumbro a leveza dos teus pés...

Mas na fundura desta solidão

Veio essa estrela me dizer quem és.

Esse amor é o sol que nunca brilha,

Antes do teu brilho despertar;

Antes de teus olhos acenderem

O novo dia que irá chegar.

E as almas, então, se tocaram

E os rumos, então, se reuniram...

As sinas, então, se abraçaram

E os anjos, de longe, sorriram!

Porque nossos sonhos e planos

Os anjos, enfim, nunca viram!

Falamos das poesias, dos sorrisos,

De um filhinho correndo no potreiro;

De um simples rancho, nosso paraíso,

E deste amor, maior que o mundo inteiro!

Falamos de uma vida com temperos,

Aromas puros, mate, violão...

À beira do açude, ao fim de tarde,

O mel na cachacinha com limão.

Que pelagem terão nossos cavalos?

Teremos cães pra enfrentar o mundo cão?

Que incenso afastará nossos fantasmas?

Com que reza louvaremos nosso pão?

Nos entregamos, num amor inteiro,

Mas nem sequer tocamos nossas mãos.

Por isso mesmo os anjos se encantaram

Nesses momentos de emoção extrema...

Os nossos corpos nunca se tocaram,

Mas nossas almas se entregaram plenas!

Qual será o nome do nosso filhotinho?

Emanuel, Rodrigo, será João?

Se for menina, qual seu nomezinho?

Que ideia trazes no teu coração?

Mais dois pés a seguir mesmo caminho,

Até que um dia, deixem nosso ninho

Pra revoar sua própria imensidão.

E assim chegaste até mim...

Pequena flor do alecrim,

Pequena estrela te trouxe;

Tua aura de encantamento

Veio trocar meus lamentos

Pela poesia mais doce.

Por uma flor do alecrim

Tua alma veio até mim.

Hoje minhas mãos são plenas...

Meus pés, meus dias, meus poros,

Meus sonhos, que rebrotaram;

Florescem os horizontes,

Quando bebemos das fontes

Das almas, que se encontraram.

E assim vamos pela estrada...

Duas almas enamoradas

Rumo a um dia, que chegará.

Pra que pressa? Temos calma...

Pois a pureza da alma

A pele não negará.