Sinopse:
Um encontro onírico devolve a presença de quem ficou no passado. Entre gestos, memórias e lucidez, o texto revela o limite silencioso entre sentir e ceder. Um lirismo contido sobre reconhecer emoções sem permitir que elas determinem o retorno.
Presença Que o Sonho Visita
Ele chegou como quem nunca partiu,
com a calma imprudente
de quem acredita que o tempo apaga rastros.
Eu dizia para ir.
Dizia com palavras.
Mas ele ouvia outra coisa —
talvez o que o silêncio ainda guarda,
talvez o que a memória insiste em tocar.
Houve um gesto.
Um instante permitido apenas ao sonho,
onde o corpo reconheceu
o que a razão já não chama.
Era real demais para ser desejo,
profundo demais para ser escolha.
Eu recuei.
Não por ausência de sentir,
mas por excesso de lucidez.
Depois o vi distante de mim,
feliz no próprio chão,
mãos na terra,
inteiro em outra paisagem.
E então compreendi, sem alarde:
há presenças que o sonho visita,
mas a vida não acolhe.
Acordei com o coração em vigília,
sabendo que sentir não é ceder,
e que até no sonho
aprender a dizer não
é uma forma de permanecer inteira.