PRIMEIROS VERSOS DE UM TEMPO AUSENTE

Poesias Gaúchas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | Kaco Andrade
Publicado em 29 de Outubro de 2025 ás 15h 14min

Noite comprida...entre cochilos e devaneios

Que entremeiam a tua ausência.

Vejo o rastro do teu cheiro

Nos campos dos meios delírios

Ouço tua voz harmoniosa a me falar do amor,

Na varando dos meus sonhos

Enquanto a tristeza me espera

Na portados fundos, da minha alma

 

Não vi teus olhos, e nem o teu rosto

Quando deixou o rancho,

Sem avisar-me ao menos

Que ficaria a saudade

Tomando conta da gente.

Nem um adeus, nenhum bilhete,

Nenhuma lágrima se quer.

Apenas partiu... com o minuano

Que soprava naquela noite fria

Do inverno da minha existência.

 

Abriu, nos campos da estância da vida minha,

Um posso fundo...tão profundo,

Que eu ainda não vejo saída.

Apenas espero a tua volta

E o toque da tua mão macia

A afagar o pranto que encharca a alma

Que chora, noite... e dia.

 

No poente, quando o sol

Vem se deitar por entre os serros

A saudade se faz presença,

A tua voz faz revoar

Os passaredos nos campos

E o gosto do teu sabor

Gruda na bomba do mate,

Cada gole é um combate

De morte contra a existência.

 

Uma tropilha de anseios

Povoam os meus pensamentos,

E uma raiva se apodera e se faz brado

Nos olhos claros da alma.

Por que partiu? Porque?

Porque não ficou cuidando dos teus?

Porque deixou os teus filhos, teu rancho, tua querência?

Porque deixou esta ausência no lugar que era teu?

E nem pediu permissão pra deixar meu coração

Perdido, vazio e seu.

 

Na madrugada, quando me abraço ao catre vazio

É que a dor é mais amarga...

Castigo o corpo, afoga a alma,

Pois tua presença é tão real

Que posso te ver na janela

A me esperar da tropeada,

Me vendo chegar num galope

Pra me aninhar nos teus carinhos.

 

Mas volto a realidade,

Pois sei que não vais voltar.

Por isso essa voz

De pesar, de raiva,

Por não entender as razões

Nem os porquês deste tempo

Que não passa

Então me arrasto pro catre,

Me achego com a saudade

E me deixo descansar.

 

Tirando meu corpo e minha alma,

Está tudo como deixaste.

Até o gosto do mate

Que tu sevavas pra mim,

Continua tudo aqui.

Desculpe minhas lamurias,

Meu desabafo de dor,

É que a saudade se agranda

A cada dia que chega.

 

Te trouxe essas maçanilhas

Que colhi pelo caminho

Pra que recordes da vida

Que tivemos lá no rancho

E pra enfeitar esta lapide fria

Do campo santo.

 

Não te preocupes,

Nós aqui vamos vivendo

E Deus vai nos confortar!

Vá em paz! Descanse agora!

Tenha certeza que um dia

Nós vamos.. nos reencontrar!

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