Só o Coração Sente.
Poemas | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 21 de Julho de 2025 ás 23h 25min
A saudade mora aqui, não aluga espaço — ela se instalou como quem sabe ficar. Não pede licença, nem se desculpa, apenas chega e começa a lembrar.
Lembra da voz do meu pai, firme e serena, do jeito que ele me fazia crer no amanhã. Lembra do abraço da minha mãe, que valia mais do que qualquer plano de fuga.
Eles eram meu lar antes de qualquer parede, eram bússola quando o mundo girava demais. E agora, sem eles, é como caminhar sabendo o caminho, mas sem saber os passos.
Essa saudade não grita — ela sussurra. Em pequenos gestos do dia, no cheiro de café, no conselho que não ouço mais, na vontade de voltar pra um tempo que só existe dentro de mim.
Tento não ceder, tento não chorar, mas ela insiste. Como brisa que entra pelas frestas, como lembrança que ignora trancas.
E mesmo que doa, sei que é amor disfarçado de ausência. Porque quem foi porto, nunca deixa de ser mar.
Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.