SOB A CHUVA
Ela caminhava pela estrada antiga,
onde o chão rachado guardava silêncios.
O céu era cinza, e dentro dela trazia
um deserto de lembranças e cansaço.
Então choveu.
Primeiro, leve…
como um sussurro vindo do alto,
um toque de Deus sobre o rosto.
As primeiras gotas despertaram a terra,
e algo nela também despertou.
O vento trouxe o perfume do mato,
e, pela primeira vez em muito tempo,
ela respirou fundo
como quem volta à vida.
A chuva engrossou,
lavando as ruas, as mágoas,
as palavras não ditas.
E ela entendeu:
às vezes, Deus fala assim,
sem voz, sem pressa,
apenas deixando cair
o que purifica e faz crescer.
Quando o sol voltou,
o mundo era o mesmo,
mas os olhos dela, não.
Havia neles um brilho novo,
feito de fé,
feito de esperança,
feito de chuva e renascimento.
O sol trouxe o som dos passarinhos,
como um coro de boas-vindas ao recomeço.
Ela caminhava devagar,
a roupa ainda úmida,
o coração leve.
As poças refletiam o céu,
e ela se viu ali,
não como antes,
mas como quem aprendeu
que a vida floresce mesmo após as tempestades.
No caminho, encontrou rostos cansados,
olhos que haviam esquecido de sonhar.
E ela sorriu.
Um sorriso simples,
mas cheio de luz.
Contou o que sentira sob a chuva:
o toque de Deus,
o perfume da terra,
a certeza de que nenhuma dor
é definitiva.
As pessoas a ouviram,
e algo nelas também se acalmou.
Porque a esperança é assim,
pequena como uma gota,
mas capaz de gerar um rio.
E desde aquele dia,
sempre que o céu escurece
e as nuvens se juntam no horizonte,
ela não teme.
Fecha os olhos,
ergue o rosto,
e deixa chover —
sabendo que toda chuva
é promessa de novo florescer!