STRADIVARIUS
Eu não sou velho!
Bravejei aos berros, enquanto o corpo me gritava:
-
"É"!
A longa estrada a me pesar os ossos.
As carnes moles a doer por nada.
Os olhos turvos e tão embaçados,
Olhando ao longe e nem chegando perto.
A voz cansada até para gritar.
Então parei para pensar no assunto...
Onde eu estava que não percebi
O dia a dia a me roubar o viço?
Onde eu parei, que não deixei o ofício,
Enquanto os outros foram descansar?
E assim me vi desesperado e pobre,
Feito a moeda que não vale nada
E que por outra já será trocada,
Sem poder ter o que já lhe coubera.
E assim me vi, com o peito qual tapera,
Que ainda resiste neste ir e vir,
Sabendo triste, logo um vento chega
E inevitável lhe será cair!
Olhei na volta, rebusquei amigos...
Achei uns poucos, outros tantos foram.
Foram embora, pra virar lembranças
E umas histórias pra contar aos netos.
Mas sim. Eles viraram lembranças!
E sim... Eles deixaram histórias!
Nesse momento, me entendi um velho.
Velho demais pra questionar o tempo,
Pois a velhice que ele impõe aos corpos,
Minha alma nega a aceitar, por dentro.
Mas não! Eu não sou velho!
Balbuceei aos prantos
E as minhas lágrimas me entenderam.
Porque elas sabem que esse meu novelo
Não tem vontade de se embaraçar.
O fio da vida está esticado,
Mas eu o vejo feito a corda tensa,
Que sublinhada pelo arco certo,
Extrai as notas de um Stradivarius.
A velhice... Ah... A velhice,
Bela senhora, tem os seus encantos.
Tem a experiência do contar dos anos...
Tem a beleza do saber pra mais...
E a tapera?
A tapera agora no meu peito canta!
Se é inevitável o chegar do vento,
Que ele a encontre firme e sem lamentos,
Olhando o tempo e abraçando a sorte,
Porque quem olha sem pesar pra morte,
Sabe que a vida lhe valeu a pena.
Encaro o alto da escadinha infame...
Olho as sacolas e me encorajo.
Cada degrau é um desafio, mas ajo.
Não me conformo, eu consigo! Eu venço!
Até que o ar me falta em um momento,
Paro de soco e quase me esborracho.
Faltam mais três e lá me vou de novo!
Subo os degraus e o desafio é pago.
E lá do alto, ao olhar pra baixo,
Com as sacolas e com as mãos tremidas,
Numa cadeira, eu repenso a vida,
Com um pensamento a me tomar de assalto.
É... Eu sou um velho!
Eu sou um velho!
Repeti sorrindo e até a vida, me sorriu de volta!
Porém um velho cheio de desejos.
De tempo e vida, sou quase um guri.
E quando o tempo me encara eu digo:
-
Um velho sim, mas não envelheci!