Ó meu Deus porque, que eu fui tocar nas tulipas do seu jardim? 

Antes tivesse só olhado elas de longe, 

Agora minhas mãos, que dor, que pranto, choram. 

Um aroma doce, agora amargo fel, 

Queimando a pele, a alma em desespero, 

Essa beleza toda me enganou, Deus meu. 

Deus meu, que fraqueza me levou ao jardim, 

Ao toque proibido? Ilusão e breu. 

A beleza cega, a dor que me consome feito fel. 

As pétalas macias, um chamado de longe, 

Mas agora as feridas em minhas mãos choram, 

Por que, meu Deus, por que me deste este desespero? 

Desespero que invade, minh’alma pede trégua, Deus meu. 

O perfume antes doce, agora me trai no jardim. 

As lembranças da beleza que hoje as mãos choram, 

Remorso, o preço alto que pago por meu breu. 

A inocência perdida, visão de tão longe. 

Condenado a sentir para sempre esse fel. 

Este fel da culpa que me rói, um gosto atroz, sem fel. 

Imploro clemência, mas o eco responde, Deus meu. 

A visão do paraíso perdido, oh tão longe! 

A tentação pairava exuberante no jardim. 

Agora estas chagas de dor que minhas mãos choram, 

Marcam pra sempre minha alma, puro breu. 

Mergulhado em sombras, imerso nesse breu, 

A provar do veneno, gota a gota, esse fel. 

As lágrimas quentes que minhas mãos choram, 

Não lavam o pecado, não chegam a Ti, Deus meu. 

Perdido vagueio, exilado do jardim, 

A lembrança tortura, visão de tão longe. 

De tão longe contemplo a beleza, antes tão perto, longe... 

A culpa me afoga, me prende nesse breu. 

A saudade lateja, a dor invade o jardim. 

Amargurado sorvo, incessantemente, o fel. 

Imploro perdão, elevação a Ti, Deus meu. 

Enquanto, punidas, minhas mãos, pra sempre, choram. 

Minhas mãos choram, pra sempre longe desse jardim, 

Condenado a provar, implacável, o fel. 

Implorando clemência, oh meu Deus, sem Ti, breu.