Hoje uma lágrima tocou meu rosto,

Deslizando suave, sem aviso ou propósito.

Nasceu de um sussurro, de um quase gosto,

De memórias em sombras, de um sonho difuso.

Não foi tristeza, nem alegria plena,

Mas um momento suspenso, entre tempos e espaços.

Uma gota que carrega, em sua pequena cena,

O peso do mundo, seus laços e embaraços.

Veio do nada, talvez do tudo escondido,

Daquilo que guardamos, sem saber, no peito.

Um sentimento mudo, antes reprimido,

Agora livre, em seu curso perfeito.

Era como se o céu, em sua imensidão cinzenta,

Tivesse tocado a terra, só para me encontrar.

Uma mensagem divina, talvez acidental, tenta

Dizer que, mesmo solitários, não estamos a vagar.

Ela falou de saudades, de amores idos,

De sonhos desfeitos e outros renascidos.

De um ciclo sem fim, de eternos movimentos,

De alegrias breves e de longos lamentos.

Hoje uma lágrima tocou meu rosto,

E me fez ver a beleza no quase nada.

Na fragilidade humana, encontrei um gosto

De viver cada instante, na jornada encantada.

E assim segui, com o rosto ainda molhado,

Sabendo que cada lágrima tem seu porquê.

Em cada gota, um universo é espelhado,

E em cada despedida, um novo encontro se dê.