Wi-Fi: o fio invisível da sanidade

Era para ser só mais uma manhã tranquila. Café passado, pão na chapa, celular na mão. Mas bastou abrir o navegador para o caos se instalar: sem conexão.

No começo, achei que fosse só um soluço da rede. Dei aquela olhada básica no roteador — luzes piscando como se estivessem em dúvida sobre sua própria existência. Reiniciei tudo com a esperança de quem já passou por isso antes. Nada. O Wi-Fi tinha sumido do mapa.

A casa ficou estranhamente silenciosa. O celular virou um espelho preto. A televisão, um quadro mudo. E eu, um ser humano do século XXI, completamente perdido sem aquele fio invisível que liga tudo.

Comecei a andar pela casa como quem procura um fantasma. Abri e fechei a geladeira sem fome, só por tédio. Olhei pela janela e vi vizinhos com o mesmo olhar vago, como se todos estivéssemos presos no mesmo episódio de uma série sem final.

É curioso como a internet virou parte da nossa rotina de um jeito que a gente nem percebe. A gente não “entra” mais na internet — a gente vive nela. Sem ela, o tempo desacelera, o mundo encolhe, e até o pensamento parece andar mais devagar.

Mas, no meio do tédio, redescobri coisas esquecidas: um livro com cheiro de guardado, uma música que não dependia de streaming, o som da rua, o tempo passando sem pressa. Foi quase bom. Quase.

Horas depois, o sinal voltou. As notificações chegaram como uma avalanche. O mundo retomou seu ritmo frenético. E eu? Eu respirei fundo, abri o navegador… e fui direto procurar um plano de internet melhor.

 

Livro: Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas.

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